Google
EDUCAR... UAI, SÔ!: 01/06/2007

sexta-feira, 29 de junho de 2007

terça-feira, 26 de junho de 2007

Preço da gasolina mundo a fora (clique para ampliar).


O preço está expresso em dólares por galão. Para converter para preço por litro, divida o valor por 3,78.

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Sinopses de filmes com enfoque educacional e comentários de sua utilização como recurso didático.

O SORRISO DE MONALISA



Histórico e Curiosidades

Filme norte-americano feito em 2003, com a duração de 117 minutos, recria a atmosfera e os costumes do início da década de 50. Conta a história de uma professora de arte que, educada na liberal Universidade Berkeley, na Califórnia, enfrenta uma escola feminina, tradicionalista – Wellesley College, onde as melhores e mais brilhantes jovens mulheres dos Estados Unidos recebem uma dispendiosa educação para se transformarem em cultas esposas e responsáveis mães. No filme, a professora irá tentar abrir a mente de suas alunas para um pensamento liberal, enfrentando a administração da escola e as próprias garotas.


Julia Roberts, no filme, estimula as alunas a estudarem arte moderna, levando-as a um depósito em Boston para olharem um quadro de Jackson Pollock. Na realidade, porém, Wellesley foi uma das únicas instituições a permitir que as alunas estudassem arte moderna, começando com um curso de Arte moderna no final dos anos vinte, ministrado por Alfred Barr, Jr., que mais tarde fundou o Museu de Arte Moderna.

A professora – Katherine Watson - cruza os Estados Unidos de oeste a leste. Cruzará também o modelo conservador de comportamento feminino ali estabelecido ou sucumbirá ao sistema?

O filme é criticado por aqueles que esperam uma postura mobilizadora de Katherine Watson, a professora intelectual, vinda do estilo boêmio de vida da Califórnia, para invadir o ambiente tradicionalista da costa leste. É elogiado pelos que admiram a artista principal – Julia Roberts – porque ela aparece muito bem, com uma performance tranqüila, expressiva, terna e cheia de elegância, e está acompanhada de um elenco primoroso.

O texto foi escrito por dois homens- Lawrence Konner e Mark Rosenthal. Seu título faz referência a Mona Lisa, o quadro de Da Vinci, que 10 anos depois do ano de referência do filme – 1963 - seria levado aos Estados Unidos para exposição em Nova Iorque. Mona Lisa (também conhecida como A Gioconda) é a famosa mulher pintada por Leonardo da Vinci, cuja expressão introspectiva e leve, enigmático e triste sorriso foi analisado e celebrado por inúmeros críticos. Alguns sugerem que a obra seria um autoretrato de Leonardo. Outros que se trataria de Isabella de Aragão, e que estaria triste porque seu marido era impotente, alcoólatra e batia nela frequentemente. É descrita como a mais infeliz esposa do mundo. Todas estas teorias são interessantes quando resgatadas pelo enredo com o tema da esposa que não é feliz apesar de aparentar ser, ou do papel da mulher, enquanto ressonância da vida do marido, sem identidade própria. A própria Katherine, por sua vez, tem um sorriso calmo e terno, não demonstrando emoções beligerantes ou amargas, mesmo quando colocada em situações de conflito, embora Julia Roberts tenha uma alegria própria e um sorriso singular que dificilmente parecerá triste. Em cenas em que ela está plena, sozinha, mostra uma vitalidade interior, uma força decorrente de uma vida em que busca a arte, o desenvolvimento, o questionamento, como forma de se autorealizar, bem distinto do ideal proposto para as alunas de Wellesley, com suas vidas já organizadas e estruturadas sobre determinados esquemas prontos.

A escola, porém, respondia ao ideal social da época. É uma escola importante, onde estudaram pessoas como Hillary Clinton, esposa do ex-presidente Clinton. Foi um texto da Sra. Bill Clinton que levou os roteiristas Lawrence Konner e Mark Rosenthal a pesquisar mais sobre esta escola freqüentada apenas por mulheres. Considerada machista, Wellesley é colhida em uma etapa em que a sociedade gestava os primeiros passos do movimento feminista, a ocorrer poucos anos depois. Não se tratava, portanto, de uma escola fácil para se implantar uma mentalidade liberal, em pleno início da década de 50.

Seleção de Notáveis de Wellesley College

Madeleine Albright, 1959, Secretária de Estado
Katharine Lee Bates, 1880, autora de "America the Beautiful"
Jane Bolin, 1928, a 1ª mulher negra juíza nos EUA
Annie Jump Cannon, 1884, astrônoma
Madame Chiang Kai-shek (antes: May-ling Soong), classe de 1917
Marguerite Stitt Church, 1914, congressista de Illinois
Hillary Clinton, 1969, senadora EUA e mulher de Bill Clinton
Elizabeth Drew, 1957, jornalista e escritora
Virginia Foster Durr, 1925, ativista pelos direitos humanos
Nora Ephron, 1962, escritora, produtora de filmes e diretora
Anna Faith Jones, 1954, ex-Presidente da Fundação Boston
Amalya Kearse, 1959, juiza
Judith Krantz, 1948, escritora
Ruth Roland Nichols, 1923, aviadora
Diane Sawyer, 1967, jornalista de televisão
Leticia Ramos Shahani, 1951, ex-senadora nas Filipinas,diplomata Anna Taggart, 1954, arqueologista marinha
Shirley Young, 1955, ex-VP da General Motors na Asia

Para sermos justos na sua avaliação, temos que retomar o clima da época, o contexto da mulher, e compreender a força do sistema social naquele momento e o quanto a luta para romper este sistema deveria ser grande e poderia ser infrutífera até certo ponto, especialmente se a mulher vivesse em determinados contextos sociais. Neste sentido, vale a pena analisar com os alunos, um manual, escrito nos anos 50, que se propunha a orientar as garotas sobre como deveriam conduzir suas vidas de casadas. O material está inserido em arquivo, na seqüência, e constitui uma peça curiosa sobre as crenças ligadas ao papel da mulher na época. Sem esta visão, será difícil entender o clima do filme.



Enredo

Esta é a história de Katherine Watson em Wellesley, onde vai lecionar História da Arte no ano letivo 1953/54. Em sua primeira aula, as alunas evidenciam sua inadequação para os padrões da escola, antecipando os temas ligados às obras de arte que a professora mostrará em slides, de maneira a demonstrar que já sabem tudo e que a professora está fora de contexto.

As alunas e seus pais, muitos dos quais fazem parte da Diretoria da escola, definem o que se deve fazer, estudar e acreditar ali. Uma das alunas, Betty, escreve editoriais para o jornal da escola e com ele ataca tudo que contradiz as regras vigentes. Sua primeira vítima é a enfermeira Amanda por dar pílulas anticoncepcionais para as alunas. Katherine será também alvo de suas críticas, em função das quais será demitida, ao final.

O esforço de Katherine para gerar um pensamento e uma ação independente naquelas garotas acaba sensibilizando uma das alunas, Joan Brandwyn, que irá buscar sua formação em Direito na Yale Law School embora, no final, embora aceita, ela desista porque o noivo entrou em outra faculdade e ela não poderá ficar longe do lar, após se casar.

O enredo ganha um toque desafiador quando Katherine inicia um relacionamento com um dos professores da escola e, logo depois, recebe a visita do namorado que havia deixado na Califórnia, e que a pede em casamento, deixando-a desconfortável. A história pretende justapor a perspectiva do casamento à perspectiva de uma formação para a cultura e para o próprio desenvolvimento, embora não se defina de maneira assertiva em nenhuma direção-síntese ou mesmo de oposição. Dominic West ensina italiano na escola e sua história é de um herói da guerra. No entanto, Katherine descobrirá que isso não era verdade e tomará conhecimento de seus relacionamentos com as alunas, especialmente com Giselle, uma estudante liberal e que a admira, levando-a a abandonar o relacionamento.


O filme começa com o início do ano letivo. Quem participa de associações femininas hoje, especialmente as que tiveram origem na Europa ou EUA, reconhecerá pontos de referência no cerimonial do início deste ano letivo, com que o filme praticamente entra no centro da ação. Alunas (A) se dirigem para a parte central da escola e uma delas bate à porta, com um martelo, travando o seguinte diálogo com a Diretora (D):
D - Quem bate à porta do saber?
A - Eu sou todas as mulheres.
D – O que você busca?
A – Despertar o meu espírito por meio de muito trabalho e dedicar minha vida ao conhecimento.
D – Então é bem vinda. Todas as mulheres que desejarem segui-la, podem entrar aqui. Eu agora declaro o período letivo iniciado!



Bem marcado no tempo, o ano letivo transcorre entre aulas, brincadeiras tradicionais, o baile, as férias, o encontro de garotos e garotas procurando o amor, o casamento de uma das alunas e seus preparativos, a ação e a relação dos pais com a escola e a vida dos jovens, enfim, os vários marcos da vida estudantil, que vão trazendo à tona cada personagem, seu drama, suas respostas à vida, suas crises e suas soluções.

Aquele desejo expresso no início do ano letivo, de forma quase ritualística - “...despertar meu espírito por meio de muito trabalho e dedicar minha vida ao conhecimento” - será verdadeiro? A aula inicial aparentemente conduz a esta conclusão: as alunas decoraram a apostila do Dr Staunton, utilizada como base para o curso de História da Arte, da Profa. Katherine, e descrevem cada peça de arte que Katherine lhes mostra, detalhando aspectos da pintura, pontos marcantes, época em que foi a obra criada ou encontrada, enfim, estão aparentemente “dedicadas ao conhecimento”.


Katherine se sente acuada. A Diretoria a chama para uma reunião, onde é discutida sua tese, em que ela defende que “Picasso fará pelo Século XX o que Michelangelo fez pela Renascença”. Eles pouco se concentram nas suas idéias e questionam seu conhecimento da Capela Sistina. Ela diz desconhecer a Europa e a reprovação é imediata. O sistema “fecha” Katherine embora ela não sucumba, não naquele momento. Vale a pena utilizar esta cena para destacar que o sistema é inflexível em sua moral e em suas regras e é preciso saber “jogar” com ele para não ser “consumido” por ele. A própria discussão sobre a Capela Sistina e Michelangelo ajudará nisso. Quando Michelangelo pintou a Capela Sistina, em Milão, em 1508, desenhou corpos nus. Ao completar sua obra, em 1512, as imagens chocaram aos mais conservadores, pois nelas haviam corpos despidos. Mais tarde outros pintores foram contratados para cobrir com vestes estas imagens...

O esforço todo de Katherine será dirigido para levar as alunas a se interessarem vivamente por arte e, através deste interesse, construírem a si próprias enquanto pessoas que tem opiniões pessoais, que gostam ou odeiam, e que se posicionam sobre o que está à sua volta, em vez de seguir padrões estabelecidos. O filme continua com o confronto de Katherine com as alunas e as crenças e valores de suas famílias, até que a própria Katherine se vê envolvida, ela própria, na escolha do amor ou da carreira, e sai em busca desta última, deixando porém na escola uma lembrança forte e entre as alunas uma carinhosa memória.
Durante o enredo, desenvolvem-se os “pares” românticos, há um casamento, há dores de amor, há desilusão, ou seja, tudo aquilo que envolve o velho conceito do amor entre um homem e uma mulher, quando mediados pela cerimônia do casamento e suas premissas. Estes romances, os pedidos de casamento, os desencontros amorosos, funcionam como contraponto ao empenho de Katherine em criar outros pontos de interesse para as garotas, como seres humanos que são, e não como eternas “noivas ou esposas”.

Este é um filme sobre mulheres. Quase toda a história se constrói sobre quatro alunas - Betty (Kirsten Dunst), culta, crítica e defensora determinada dos valores de Wellesley, sua melhor amiga Joan (Julia Stiles), a rebelde e liberal Giselle (Maggie Gyllenhaal), e a tímida e insegura Connie (Ginnifer Goodwin) que depende da aprovação masculina para se sentir bela.

Personagem paralelo, porém relevante, Marcia Gay Harden como Nancy Abbey, é a professora de fala, elocução e postura, que parece estar sempre representando, como se estivesse em permanente prática de sua própria aula. Nancy Abbey sintetiza o papel social da mulher da época. Solteira, conta uma história complicada de um amor impossível, até que se verifica ser uma mentira e ter sido ela abandonada pelo amado. No entanto, ela vive esta simulação de forma plena, como se fosse uma personagem, socialmente adaptada e perfeita. Ao conhecer Katherine, faz referência à vida com seus pais: “Você vai conhecer os meus pais quando vierem me visitar..”, preocupada sempre em parecer uma figura perfeita do ponto de vista dos valores sociais. Quando seu personagem cai por terra, mostra-se uma mulher sensível, sem rumo, sem sentido para a sua vida presente. Junto com ela, cai seu sorriso empostado permanentemente.

Também forte é a personagem de Juliet Stevenson como Amanda Armstrong, enfermeira homossexual, que distribui contraceptivos em uma época onde isso ainda era ilegal. Protagonizando dois temas tabus – homossexualismo e controle de natalidade – ela é firme, objetiva e está em permanente estado de alerta, mesmo assim não antecipando um dos editoriais de Beth, que levará à sua demissão. A ação de Amanda traz à tona um tema excruciante da época, a pílula.


Em 1957, a pílula seria aprovada pelo FDA (órgão norte-americano controlador de medicamentos) para tratamento de desordens menstruais. Observou-se, porém, que muitas mulheres que nunca haviam apresentado desordens menstruais, de repente desenvolveram este problema e demandaram o tratamento com a pílula. Em 1960, a pílula foi formalmente aprovada pelo FDA como um anticoncepcional, a partir de experiências clínicas levadas a efeito com 897 mulheres porto-riquenhas.


Joan Brandwyn (Julia Stiles) é o pivô da oposição que se forma entre Katherine e Betty. No entanto, ela consegue sair da posição, e tomar sua própria decisão em função do amor e da escolha da vida conjugal, vivida como parceria, abrindo mão de sua carreira. Momentaneamente ou não, o importante é que faz uma escolha e, nela, é livre.
Betty Warren (Kirsten Dunst), por sua vez, tomou o caminho do casamento, por força de pressão social e acaba por constatar que ele não é garantia de felicidade e nem de segurança social. Seu mundo desmorona quando descobre que o marido a trai mas, no processo, ela se retoma e se abre para tomar suas próprias decisões, na medida de sua coragem e da afetividade que vai progressivamente vivendo e descobrindo em si mesma.


Outra aluna, Connie, protagoniza o drama da garota que não se acha bonita mas que acaba iniciando um romance com Charlie, primo de Betty.

Julia Roberts como Katherine mantém uma atitude calma e reflexiva em grande parte das cenas. Seu desapontamento com as alunas não se traduz em uma expressão mais agressiva, como que “digerindo” as situações. Mesmo no final, não é clara a sua atitude de vencedora ou perdedora. No entanto, é interessante observar que toma um táxi para ir embora, ou seja, ainda na tem seu próprio carro, que mostraria uma autonomia mais evidente, mais assertiva. Deve ser destacada, contudo, sua permanente intenção de educar, de formar seres humanos plenos e abertos ao mundo.

Ao final, a personagem é considerada “querida” mas fica um gosto de algo inacabado. As garotas, seguindo o táxi em que Katherine parte, ao final, pode ser um aparente final feliz mas, realmente, mostra um conjunto de mulheres que conduzirá suas vidas dentro dos padrões tradicionais, tristes por terem conhecido a possibilidade de sua independência mas inconsistentes com esta possibilidade por força de uma sexualidade de gosto duvidoso e de valores sociais sem sentido. Katherine também não encontra um sentido claro. Na interação com as garotas, ela vai se descobrindo e se redefinindo, mas não chega a um traçado claro e sai, enigmática, como chegou.

Giselle é uma personagem forte no filme, tendo uma vida liberal e se apaixonando por homens mais velhos, especialmente Bill Dunbar, o professor de italiano que é conhecido por ter relacionamentos com as alunas. Apesar de aparentar ser construída como um caráter discutível, Giselle, ao final, abrirá a possibilidade de uma leitura mais aberta do que Katherine propõe como independência de pensamento. Ela admira Katherine e ama Bill Dunbar, embora tenha que lidar com a sua preferência por Katherine.

Os personagens masculinos são planos e previsíveis. Charlie é o único que surge como um jovem autêntico. Os demais são fechados, previsíveis e sem nenhuma densidade. Bill Dunbar, ao final, compõe uma cena forte, mostrando as possibilidades que teria se fosse trabalhado de outra forma mas o filme não tem este propósito.

Reflexões para o Professor

O filme tem importante referente na cena em que a Diretoria chama Katherine para conhece-la melhor e discutem sua tese, como citado anteriormente. Até ali, as obras de arte que apareceram, constituem não só um maravilhoso recorte da História da Arte humana como propõem, sozinhos, a discussão inteira que o filme traz sobre o papel da mulher e do homem na sociedade. Vale a pena percorrer com os alunos as obras citadas, desde a primeira, observada por Katherine, com prazer, no trem que a traz a Wellesley.

De maneira invertida, Katherine olha, ou é olhada, por “Les Demoiselles d´Avignon”, de Picasso, e uma das mais importantes obras do que se chamaria Arte Moderna. Trata-se de mulheres em um bordel, em posições sedutoras, mas pintadas de forma plana e não com linhas arredondadas, como é o clássico corpo feminino. O espaço entre as linhas é branco, como se fosse um vidro cortado, necessitando do nosso olhar para se mostrar inteiro. O resultado é que elas nos olham e nos solicitam um posicionamento. Katherine as olha e terá que se posicionar durante o enredo do filme, sobre questões centrais do papel feminino.

A arte do século XX será marcada por obras que exigem não a contemplação mas a resposta, o tomar partido, para que a imagem se complete, participando de sua criação. O primitivismo das formas dos rostos tem duplo sentido: duas das figuras mostram relação com a escultura negra e as outras com a ibérica, confrontando-nos com o sentido totêmico que Picasso coloca em suas obras, quase que se referindo a um ritual, a um culto, a um aspecto selvagem. Esta dualidade tem raízes culturais profundas e nos comove e demanda a todos. Dos anos 50 em diante, o ser humano seria mais e mais levado a se conscientizar do que ocorre no planeta, na sociedade e consigo próprio, tendo que criar suas próprias referências pessoais e progressivamente descobrir que o sistema é um constructo alienado de seu eu interior, com quem se precisa lidar mas que não nos deve dominar, intimamente. A arte moderna é a própria expressão deste crescimento à força.



Reflexão para os pais

O filme trabalha a escolha da mulher em buscar o seu autodesenvolvimento ou se casar. No entanto, o tema não é, como se pretende, excludente. A jovem pode buscar o autoconhecimento e autodesenvolvimento na educação e, ainda assim, buscar a realização como esposa e mãe. Seu valor está em sua decisão, em sua busca, e não na escolha em si, cujo valor é pessoal.

Katherine, embora lutando pelo desenvolvimento mental e cultural das jovens, será ela também envolvida nos temas que tanto preocupavam as alunas de Wellesley: o amor, as festas, o brilho na sociedade. Ela transita, com sucesso e beleza, neste meio, acabando por se apaixonar pelo professor de Italiano. O filme, porém, trará à tona, embora de forma não profunda, temas fundamentais que começam a ser discutidos naquele momento como a aceitação da infidelidade masculina e a obrigatoriedade da sua compreensão pela mulher, a possibilidade de uma mulher escolher uma carreira, em detrimento do casamento, e assim por diante.

É interessante que os pais desenvolvam uma discussão com seus filhos menores (ensino fundamental) sobre temas como igualdade nos papéis típicos de cada gênero; pensar por si próprio, escolha da vida dentro do casamento como uma das serias escolhas da vida, com conseqüências, obrigações e benefícios como qualquer outra escolha. É recomendável que discutam também os efeitos de uma sexualidade mal conduzida, a prosmicuidade, a infidelidade, a intolerância, trazendo para o âmbito da consciência e do debate assuntos delicados como o relacionamento sexual entre professor e aluna, para que o jovem se posicione.

O filme é mais recomendável para crianças a partir de 8 anos, sendo recomendável que até os 11/12 anos, os pais assistam junto e comentem o filme com os filhos, especialmente sobre os temas acima.

Ao mesmo tempo, é relevante lembrar aos pais como o educador, na escola, tem um papel altamente complementar aos dos pais, na família e na casa, devendo ser respeitado e acompanhado, pois é na escola, com os educadores, que a educação dada em casa se afunila e passa pelos seus maiores testes.


Uso do Filme como Recurso na Aula
O roteiro deste filme, embora interessante do ponto de vista de pesquisa, não abre para uma leitura mais ampla das obras de arte, até porque não é o seu propósito. No entanto, o professor que estiver interessado em abrir a perspectiva da História da Arte, particularmente na Antiguidade, tem aqui um momento importante para faze-lo. Proponha-se a atuar como Katherine, porém pleno da intelectualidade que se informa que ela possui, e estimule o imaginário dos seus alunos sobre as pinturas nas cavernas, a partir do Bisão Ferido, achado em Altamira, na Espanha, e considerado como de 15 mil anos AC, a primeira obra que Katherine apresenta a suas alunas. Ou do Rebanho de Cavalos, datado de 10 mil anos AC. Vá além do nome, local e data, e retome pontos relevante destas obras como os que seguem.

- A arte das cavernas era uma arte difícil e de produção custosa. Em primeiro lugar, lembre-os de que os artistas necessitavam de luz para produzir suas obras e provavelmente usassem tochas de fogo para faze-lo, que consumiam gordura de animal em grandes quantidades.

- Em segundo lugar, apesar de que as melhoras obras, especialmente em Altamira, onde foi encontrado o Bisão Ferido, fossem feitas em pé ou deitado, outras requeriam complexas escaladas, como Michelangelo quando pintou a Capela Sistina. Algumas das pinturas foram feitas em escala gigantesca ou a muitos metros do chão. Mamutes há muitos metros do solo, búfalos de quase 20 pés em Lascaux, e outras tantas obras, demandam nossa admiração pelo sacrifício e recursos que exigiram.

Obs. No filme, a Capela Sistina e sua influência na Renascença é um dos temas tratados e, pelo que se vê, pode ser retomada neste contexto, de forma muito objetiva e concreta.

- No filme, é citada a obra chamada de Rebanho de Cavalos, encontrada em Lascaux, na França, e descoberta em 1879. Mostre a seus alunos a incrível caverna de Lascaux, para que tenham noção do seu tamanho e de sua grandiosidade, especialmente se considerarmos a época a que estamos nos referindo. Veja mais no site http://www.hominids.com e busque “donsmaps/cavepaintings”. Seus alunos ficarão maravilhados ao ver tanta coisa feita na antiguidade, e com tal detalhe e em tamanhas proporções.

A incrível caverna de Lascaux, conhecida como Galeria de Pintura, tem 100 pés de comprimento por 35 pés de largura (Obs. 1 pé = 30,48 cm). As cavernas eram escolhidas pelo seu tamanho e pela segurança que ofereciam. A caverna conhecida como Rouffignac adentra cerca de 6 milhas dentro da montanha onde está localizada, e muitas das grandes obras ali existentes tem cerca de 7 pés de comprimento. Os artistas necessitavam, assim, não somente de plataformas e pontos para escalar, mas também de auxiliares. Muitos destes auxiliares provavelmente misturavam as tintas que tinham que ser usadas imediatamente, antes que secassem, faziam os pincéis com penas, folhas ou pelo de animal, para o prazer de seus mestres. A qualidade e a consistência dos melhores trabalhos encontrados nas cavernas fazem pressupor que funcionavam quase que como estúdios, necessitando suporte de várias pessoas. Os mestres, que criavam as obras de arte, deveriam ser seus líderes.

- Outro ponto relevante é a qualidade das obras. No filme, duas garotas descrevem os aspectos relevantes em termos de qualidade e criatividade: uma, ao se referir ao “sombreado e à espessura da linha que contorna a corcunda” do bisão (O Bisão Ferido) e a outra refere-se à obra “Bando de Cavalos” que se destaca “pelas linhas harmoniosas, representando o movimento do animal”. Embora as obras antigas sejam mais pobres na representação do homem, constituem impressionantes registros do seu conhecimento detalhado dos movimentos do animal, de suas formas, de sua dinâmica, dos princípios de sua locomoção, resultantes de muito tempo de observação e estudo destes animais. A forma como o Bisão Ferido lambe seu machucado, provavelmente causado por um caçador, denuncia um conhecimento e uma observação atenta de sua forma de agir. A representação dos animais traz sua força, sua elegância, sua imponência, apesar da simplicidade das linhas. O uso de superfícies na rocha, sugerindo profundidade e uma certa perspectiva, é também admirável. Se os alunos imaginarem o ambiente das cavernas, iluminado fracamente pelas tochas, e o uso de tintas produzidas de forma natural, poderão imaginar também a força e o impacto destas imagens naqueles povos primitivos, em contato com estas primeiras experiências da arte. Somente imaginando-se este impacto é que se pode compreender que os povos antigos tenham dedicado tanto tempo e recursos à criação nestas cavernas.

- Por que fariam isso? Muita gente já teorizou a respeito. Alguns exploraram a teoria de que estas obras tinham o objetivo educativo: ensinar a caça. No entanto, a existência de criaturas que não eram caçadas invalida em parte esta explicação. Outros explicaram como uma ação de magia, de religiosidade, ritualística, no entanto, a inexistência de cenas de sacrifício em parte se contrapõe a esta teoria. A explicação mais aceitável é a do puro prazer que a arte traz. A existência destas cavernas provavelmente oferecia aos grupos que a constituíam um sentido comunitário e a visitação deveria reforçar este sentido. Teriam servido ainda como base aos contadores de histórias? Teria a arte precedido a religião, e conferido àqueles povos um primeiro sentido de veneração, de respeito?
Discuta com seus alunos este incrível tema e lance em seu imaginário o desafio de criarem as situações, as explicações, as elucubrações sobre aquele mundo, sobre os significados das obras, sobre como viviam e o que faziam estes antigos artistas. Esta sera uma experiência que marcará indelevelmente suas mentes no que se relaciona às obras de arte na antiguidade.




O Filme e os Temas Transversais

A questão de gênero é a mais pungente neste filme. Como tema transversal, é importante que o professor o discuta, destacando o enfoque feminino, pois o homem tem pouco espaço neste filme. Apesar de existir como elemento de referência de poder, para o qual as mulheres direcionam sua vida e seus mais relevantes anseios, ele não é o tema. Existe como um pano de fundo ao qual se contrapõe o mundo feminino.


O papel da mulher na sociedade

Vejamos as demais obras citadas na primeira aula de Katherine, para compreendermos como é impositiva esta discussão:

- A estátua de Miquerinos e sua Rainha, pelas suas formas idealizadas, referem a rígida obediência do Egito a um sistema de regras e convenções que constituía a manifestação da natureza da autoridade do faraó sobre tudo – pessoas e coisas. A postura assertiva do faraó reforçava sua autoridade e poder. A rainha tem um contorno mais natural e o destaque dado a seus seios e área pubiana retoma, fortemente, a questão da fertilidade. Assim que casada, a mulher egipcia deveria ter filhos, e por isso ela se angustiava buscando os sinais de gravidez. O homem é colocado em posição destacada em relação à mulher - à frente dela - em pé ou sentado. Todo monarca deveria nascer de uma rainha ou legitimar-se pelo casamento com uma mulher de família real. Apesar de administrada pelo marido, a mulher podia ter propriedades. Ela era a “senhora da casa”. Apenas entre 1550 e 1070 a.C. é que a mulher egípcia conseguiu projeção sócio-política e religiosa singular.

- Escriba Sentado, indicando a importância da cultura para se diferenciar. Os escribas sabiam ler e escrever e, por isso, eram desobrigados de outros trabalhos, podendo atuar com os reis e os sacerdotes. É importante observar que, apesar de se constituir em diferencial a sua cultura, ele está em posição passiva, e não ativa como seria de se esperar de um homem. Por outro lado, é referida a obra “Máscara Funerária”, novamente sinalizando poder, pelo trabalho que ela traz, porém, em situação já passiva – de morte.

- Deusa Serpente, símbolo da cultura micênica, onde proavelmente a mulher tinha um lugar destacado. Era uma civilização tranqüila, com um bem organizado sistema de produção agrícola. A Deusa Serpente, quando descoberta, foi compreendida como um aspecto da Deusa Mãe. Em sua mão, serpentes. Símbolo da fertilidade?

A questão do gênero, no filme, é tratada pelo ângulo da relevância da mulher na sustentação do tecido social, ao mesmo tempo em que não lhe é dado poder algum, como ser independente. Todas estas referências vem de encontro à problemática trazida pelo filme: o papel da mulher na sociedade, sua submissão ou relação com o homem, seu constragimento social, a importância de seu papel para a segurança e preservação da família e da sociedade...

A análise dos anos 50, no mundo, trará questões fundamentais ligadas ao gênero. Começam as brigas pelos direitos humanos. A liberação da pílula está sendo considerada, embora ainda muito discutível e polêmica. O feminismo ensaia seus primeiros passos.

A questão da cultura da mulher

Buscando se firmar com as garotas que a colocaram em posição desagradável na 1ª aula, Katherine propõe a discussão sobre uma obra inusitada, que não constava na apostila do Dr Staunton: Carcaça, de Chaim Soutine. Soutine nasceu em 1894 e é considerado o mais dinâmico representante do expressionismo. Morreria em 1943, ou seja, 10 anos antes do momento retratado no filme (1953). As alunas perdem a referência inicialmente pois não se trata de um artista clássico, integrante da cultura considerada “correta” para aquele estamento social. No entanto, instadas a analisar a obra, encontram aspectos novos: agressividade, erotismo... Procurando defender a cultura tradicional que consideram correta, afirmam que é impraticável comparar os quadros de Rembrandt a quadros de parede. Interessante diálogo pois Soutine foi bastante influenciado por Rembrandt e é deste último um quadro - Carcass of Beef (também chamada de Flayed Ox), datado de 1655, que traduz o mesmo tema da Carcaça, de Soutine.

As garotas não alcançam esta comparação mas valeria a pena faze-la. A obra de Rembrandt lembra a força da vida enquanto a de Soutine, que era um admirador de Rembrandt, traduz o desespero pela falta de sentido que vê na vida. Nascido em 1606, Rembrandt era um mestre da luz e da sombra. Soutine é um representante da Arte Moderna e, portanto, não é considerado “cultura” para o grupo social de referência no filme.

Jackson Pollock é a outra referência de Arte Moderna que o filme evoca. Katherine leva as alunas para ver sua obra – Greyed Rainbow – finalizada 3 anos antes de sua morte prematura por um acidente de carro. O movimento, a textura, o jogo de cores e formas do quadro é capturado por uma câmera que se aproxima, investigativa, da obra, aceitando o convite de Katherine: “simplesmente olhe”. Não é exigida das garotas nenhuma palavra, nenhuma análise, nenhuma perfomance: simplesmente são convocadas ao prazer de admirar e olhar atentamente uma obra de arte inovadora, como a de Pollock, que traz o inconsciente à tona.


A Simbologia do Filme

O mundo feminino clássico é retratado neste filme pela profusão de detalhes na decoração, pelo figurino, pelas flores – recorrentes na decoração e até mesmo no presente que as garotas oferecem a Katherine, pelos chapéus, pelos tules e véus, pelo romance, pela música – Mona Lisa, de Nat King Cole, enfim, por inúmeros sinais. Mas que mundo feminino é este? A maior parte dos símbolos traduz o feminino conduzido pelo social, o feminino que o sistema permite.

A arte moderna, representada por Picasso, trará um feminino mais interno, mais primitivo, quase que requerendo a recriação para de novo se encontrar. A cena do trem, mostrando Demoiselles d´Avignon, abre esta possibilidade.

O filme não chega a este resgate. Ele simplesmente registra as angústias do feminino contestado, inquirido, pressionado ao crescimento e ao autoconhecimento. Mas depois se fecha e não permite mais abertura.

Seria importante, na educação, sublinhar a tensão proposta, mais do que reconhecer o feminino “encaixotado” que o sistema oferece. O caminho da arte é talvez o mais seguro neste filme pois, de maneira sutil, sensível, vai trazendo à tona temas tão relevantes para a questão do gênero feminino que, se fossem tratados de forma polêmica, não atingiriam ponto nenhum, de tão escondidos e submissos que estavam à ordem vigente.




Marilvia e Oliveira

quarta-feira, 13 de junho de 2007

segunda-feira, 11 de junho de 2007

CICLOS: CONSELHO GERAL DE ENSINO DA GB QUER ADOTAR EM GERAL!

The Guardian, 9/06/2007-. ( www.guardian.co.uk )
Todos os exames devem ser abolidos para crianças menores de 16 anos, por causa do estresse provocado e que faz com que os alunos se insurjam contra a própria educação, segundo um conceituado corpo de professores. Num ataque notável à política do governo britânico de prosseguir com a política de exames para crianças a partir do primeiro ano primário, o Conselho Geral de Ensino está clamando por "uma revisão urgente e fundamental do regime de provas". Num relatório, o Conselho afirma que os exames não estão resolvendo a implementação de padrões de educação, levando as crianças à desmotivação e ao estresse, alem de encorajar os adolescentes atingidos a abandonar a escola.

Internet e Fraude

CRÔNICA - MOACYR SCLIAR

A Internet ensina-nos coisas, sim. Inclusive quando temos de pensar a respeito das armadilhas da Internet e de como evitá-las.

Alguém duvida que a Internet mudou a vida das pessoas? Não, ninguém pode duvidar disso. A Internet não é apenas um meio de comunicação ou de informação; é um jeito de viver, um novo jeito de viver, e a história do mundo vai se dividir em duas fases: AI (antes da Internet) e DI (depois da Internet). E ai do AI! A Internet subverteu totalmente a milenar idéia de que os mais velhos detêm o conhecimento. Agora, são eles que têm de aprender com os mais jovens, e não o contrário. Um aprendizado que, aliás, funciona. Num projeto conduzido nos Estados Unidos, adolescentes, orientados por professores de informática, prontificaram-se a dar aulas sobre computador e Internet para pessoas de idade. Ficaram, os veteranos, melindrados com a situação? Nada disso. Antes do treinamento, só 5% sentiam-se à vontade com Internet. Depois do treinamento, esta percentagem subiu para 80%. O vovô pode, sim, aprender com os netos. Vale para computador, vale para celular, vale até para controle remoto.Mas há um lugar em que a Internet está causando problemas: a sala de aula. No passado, era muito comum os professores pedirem aos alunos que preparassem, em casa, trabalhos sobre temas diversos. As pesquisas para isso eram feitas em bibliotecas ou em enciclopédias. No mínimo, os jovens tinham de copiar os textos. Agora, não. Agora eles simplesmente podem baixá-los da Internet. E podem contar para isso com o auxílio de empresas especializadas, que elaboram até teses de mestrado e de doutorado. A freqüência com que isso está acontecendo é muito grande, e os textos a respeito, que aparecem na própria Internet, dizem que, nos Estados Unidos, no mínimo 50% dos alunos admitem que já recorreram a esse tipo de fraude. Resultado: surgiu uma nova especialidade, a detecção de fraudes. Há até um programa de computador, o Turnitin, desenhado para detectar a cópia.Pergunta: será que isso vale a pena? Será que transformar os professores em êmulos da Polícia Federal será a solução do problema? Ou será que seria melhor pensar sobre as causas desse fenômeno? Em primeiro lugar, precisamos nos dar conta de que, como foi dito antes, copiar os alunos sempre copiaram, só que antes faziam isso à mão. Pode-se alegar que, desta forma, aprendiam alguma coisa, mas trata-se de uma afirmação questionável: copiar pode ser simplesmente uma coisa mecânica. O melhor é perguntar: qual deve, afinal, ser o característico de um trabalho de aluno? A mim a resposta parece óbvia. O trabalho do aluno, como o trabalho de qualquer pessoa - como este texto que vocês estão lendo - deve refletir o pensamento e as emoções de quem o elabora. Ou seja: o trabalho deve ser eminentemente pessoal. Deixem-me dar um exemplo tirado do ensino de medicina. Podemos pedir a um aluno que escreva sobre as relações médico-paciente, e aí, sem dúvida, ele encontrará na Internet montes de textos copiáveis. Ou podemos pedir que descreva um episódio de sua própria vida: uma doença que teve e o papel que o médico desempenhou então, com sua avaliação a respeito. Aí não tem como colar. Só a autenticidade resolve. E esta autenticidade será extremamente educativa para o aluno. Ou seja: a Internet nos ensina coisas, sim. Inclusive quando temos de pensar a respeito das armadilhas da Internet e de como evitá-las.

sexta-feira, 8 de junho de 2007

O verbo For - João Ubaldo Ribeiro

Vestibular de verdade era no meu tempo. Já estou chegando, ou já cheguei, à altura da vida em que tudo de bom era no meu tempo; meu e dos outros coroas. Acho inadmissível e mesmo chocante (no sentido antigo) um coroa não ser reacionário. Somos uma força histórica de grande valor. Se não agíssemos com o vigor necessário - evidentemente o condizente com a nossa condição provecta -, tudo sairia fora de controle, mais do que já está. O vestibular, é claro, jamais voltará ao que era outrora e talvez até desapareça, mas julgo necessário falar do antigo às novas gerações e lembrá-lo às minhas coevas (ao dicionário outra vez; domingo, dia de exercício).O vestibular de Direito a que me submeti, na velha Faculdade de Direito da Bahia, tinha só quatro matérias: português, latim, francês ou inglês e sociologia, sendo que esta não constava dos currículos do curso secundário e a gente tinha que se virar por fora. Nada de cruzinhas, múltipla escolha ou matérias que não interessassem diretamente à carreira. Tudo escrito tão ruybarbosianamente quanto possível, com citações decoradas, preferivelmente. Os textos em latim eram As Catilinárias ou a Eneida, dos quais até hoje sei o comecinho.Havia provas escritas e orais. A escrita já dava nervosismo, da oral muitos nunca se recuperaram inteiramente, pela vida afora. Tirava-se o ponto (sorteava-se o assunto) e partia-se para o martírio, insuperável por qualquer esporte radical desta juventude de hoje. A oral de latim era particularmente espetacular, porque se juntava uma multidão, para assistir à performance do saudoso mestre de Direito Romano Evandro Baltazar de Silveira. Franzino, sempre de colete e olhar vulpino (dicionário, dicionário), o mestre não perdoava.- Traduza aí quousque tandem, Catilina, patientia nostra - dizia ele ao entanguido vestibulando.- "Catilina, quanta paciência tens?" - retrucava o infeliz.Era o bastante para o mestre se levantar, pôr as mãos sobre o estômago, olhar para a platéia como quem pede solidariedade e dar uma carreirinha em direção à porta da sala.- Ai, minha barriga! - exclamava ele. - Deus, oh Deus, que fiz eu para ouvir tamanha asnice? Que pecados cometi, que ofensas Vos dirigi? Salvai essa alma de alimária. Senhor meu Pai!Pode-se imaginar o resto do exame. Um amigo meu, que por sinal passou, chegou a enfiar, sem sentir, as unhas nas palmas das mãos, quando o mestre sentiu duas dores de barriga seguidas, na sua prova oral. Comigo, a coisa foi um pouco melhor, eu falava um latinzinho e ele me deu seis, nota do mais alto coturno em seu elenco.O maior público das provas orais era o que já tinha ouvido falar alguma coisa do candidato e vinha vê-lo "dar um show". Eu dei show de português e inglês. O de português até que foi moleza, em certo sentido. O professor José Lima, de pé e tomando um cafezinho, me dirigiu as seguintes palavras aladas:- Dou-lhe dez, se o senhor me disser qual é o sujeito da primeira oração do Hino Nacional!- As margens plácidas - respondi instantaneamente e o mestre quase deixa cair a xícara.- Por que não é indeterminado, "ouviram, etc."?- Porque o "as" de "as margens plácidas" não é craseado. Quem ouviu foram as margens plácidas. É uma anástrofe, entre as muitas que existem no hino. "Nem teme quem te adora a própria morte": sujeito: "quem te adora." Se pusermos na ordem direta...- Chega! - berrou ele. - Dez! Vá para a glória! A Bahia será sempre a Bahia!Quis o irônico destino, uns anos mais tarde, que eu fosse professor da Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia e me designassem para a banca de português, com prova oral e tudo. Eu tinha fama de professor carrasco, que até hoje considero injustíssima, e ficava muito incomodado com aqueles rapazes e moças pálidos e trêmulos diante de mim. Uma bela vez, chegou um sem o menor sinal de nervosismo, muito elegante, paletó, gravata e abotoaduras vistosas. A prova oral era bestíssima. Mandava-se o candidato ler umas dez linhas em voz alta (sim, porque alguns não sabiam ler) e depois se perguntava o que queria dizer uma palavra trivial ou outra, qual era o plural de outra e assim por diante. Esse mal sabia ler, mas não perdia a pose. Não acertou a responder nada. Então, eu, carrasco fictício, peguei no texto uma frase em que a palavra "for" tanto podia ser do verbo "ser" quanto do verbo "ir". Pronto, pensei. Se ele distinguir qual é o verbo, considero-o um gênio, dou quatro, ele passa e seja o que Deus quiser.- Esse "for" aí, que verbo é esse?Ele considerou a frase longamente, como se eu estivesse pedindo que resolvesse a quadratura do círculo, depois ajeitou as abotoaduras e me encarou sorridente.- Verbo for.- Verbo o quê?- Verbo for.- Conjugue aí o presente do indicativo desse verbo.- Eu fonho, tu fões, ele fõe - recitou ele, impávido. - Nós fomos, vós fondes, eles fõem.Não, dessa vez ele não passou. Mas, se perseverou, deve ter acabado passando e hoje há de estar num posto qualquer do Ministério da Administração ou na equipe econômica, ou ainda aposentado como marajá, ou as três coisas. Vestibular, no meu tempo, era muito mais divertido do que hoje e, nos dias que correm, devidamente diplomado, ele deve estar fondo para quebrar. Fões tu? Com quase toda a certeza, não. Eu tampouco fonho. Mas ele fõe.
Esta crônica foi publicada no jornal "O Globo" (e em outros jornais) na edição de domingo, 13 de setembro de 1998 e integra o livro "O Conselheiro Come", Ed Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 2000, pág. 20.

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Senado Federal - Comissão de Educação

Especialistas defendem descentralização da gestão educacional

A descentralização da gestão da educação brasileira foi defendida nesta terça-feira (5) em audiência pública promovida pela Comissão de Educação (CE).
- Temo que a centralização, em Brasília, da administração da educação fundamental e média pode ser um encargo pesado demais. A máquina pública é pesada - argumentou, durante a reunião, Carlos Alberto Serpa de Oliveira, presidente da Fundação Cesgranrio e da Academia Brasileira de Educação.
Em entrevista à Agência Senado, Carlos Alberto afirmou que a "Prova Brasil" - avaliação realizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), autarquia vinculada ao Ministério da Educação - indicou que os municípios cujos alunos apresentaram bom desempenho são, "surpreendentemente, municípios pobres". Segundo ele, as comunidades desses locais foram capazes de gerar "soluções apropriadas" para seus problemas específicos.
Nunca teremos uma solução nacional que sirva para todos os municípios - destacou Carlos Alberto.Mozart Neves Ramos, ex-secretário de Educação e Cultura de Pernambuco, foi outro participante do debate que apoiou a descentralização. Ele disse, também em entrevista à Agência Senado, que "é muito difícil um gestor, mesmo o estadual, acompanhar o que ocorre em localidades que estão a 700 ou 800 quilômetros de distância".

Senado Federal - Comissão de Educação

Especialista alerta para "apagão" na formação de professores

O país corre o risco de sofrer um "apagão" na formação de professores, alertou nesta terça-feira (5) o diretor-executivo do movimento Todos pela Educação, Mozart Neves Ramos. Durante audiência pública promovida pela Comissão de Educação (CE), ele informou que já existe hoje, quando apenas 41% dos jovens na idade adequada estão matriculados em instituições de ensino médio, um déficit calculado em 250 mil professores.
- Se o déficit hoje já é grande, imagine-se quando os jovens chegarem na idade correta ao ensino médio, como desejamos. Fala-se muito do apagão de energia, mas o apagão de gente também é muito grave, pois com ele muitos jovens não terão direito a alcançar a sua ascensão social - afirmou Mozart.
Durante a terceira reunião do ciclo de debates sobre Idéias e Propostas para a Educação Brasileira e o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), presidida pelo senador Cristovam Buarque (PDT-DF), os debatedores concordaram com a necessidade de se investir na formação - e na atualização - dos professores, especialmente do ensino básico.
Logo no início do debate, o presidente da Academia Brasileira de Educação, Carlos Alberto Serpa de Oliveira, citou resultados da avaliação de alunos do ensino básico para ressaltar a importância dos professores. Na terceira série do ensino médio, informou, apenas 1% dos alunos obteve rendimento considerado satisfatório em Matemática. E 73% obtiveram resultados abaixo do básico em Português.
- A escola que faz a diferença deve ter professores competentes e motivados, mas está difícil formar esses professores. Existe pouca gente hoje procurando o magistério - lamentou Serpa.
A "grande força" de um processo de educação de qualidade deve ser o professor, concordou o especialista em educação Célio Cunha. Na sua opinião, é necessário tornar o magistério uma carreira mais atrativa. Para isso, observou, será necessário "valorizar o mérito", por meio de iniciativas como a adoção de critérios mais rigorosos de seleção dos professores e a criação - a exemplo do que ocorre na Medicina - de um sistema de residência pedagógica.
Todos os debatedores defenderam o direcionamento de maiores verbas para a educação. Segundo Mozart Ramos, países que deram um grande salto chegaram a investir no setor até 7% de seu Produto Interno Bruto (PIB).
O presidente do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes), Paulo Rizzo, lembrou ainda que os governos vêm-se esquivando de garantir à educação os percentuais mínimos da arrecadação estabelecidos na Constituição, por meio de medidas como a criação de contribuições - que não entram no cálculo dos percentuais.
- Há poucos dias, perto de minha casa, perguntaram a um jovem por que vendia drogas. Para obter dinheiro, ele respondeu. Com esse dinheiro, ele poderia comprar uma arma. E para que a arma?, quis saber a comerciante que conversou com o rapaz. Ele disse que era para ser respeitado. Nós queremos um país onde o jovem, para ser respeitado, tenha uma educação de qualidade - disse Rizzo.

terça-feira, 5 de junho de 2007

segunda-feira, 4 de junho de 2007

Comentário sobre o texto: "Criando Oportunidade de Aprendizagem ao Longo da Vida – de José Armando Valente"

Só melhoramos as nossas aptidões, competências e conhecimento, se estivermos inseridos numa base contínua de aprendizagem. Toda nossa educação, desde quando nascemos até a morte, vive num processo de aprendizagem e, sem percebermos, nos envolvemos em atividades não sistémicas, quer institucionalizadas ou informais, onde desenvolvemos a toda hora o aprender...